Como podemos olhar para nossas vivências traumáticas?

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Na jornada da vida, enfrentamos inevitavelmente eventos traumáticos que abalam nossas estruturas emocionais e mentais. Nessas situações desafiadoras, a filosofia existencialista de Jean-Paul Sartre oferece uma lente valiosa através da qual podemos entender e lidar com esses traumas.

Para Sartre, a existência precede a essência, o que significa que não somos definidos por nossas circunstâncias ou eventos externos, mas sim pela maneira como escolhemos responder a eles. Portanto, ao lidar com traumas, é crucial reconhecer a liberdade fundamental que cada indivíduo possui para escolher seu próprio significado e direção na vida.

Em primeiro lugar, é importante enfrentar a realidade do trauma e aceitar sua existência. Sartre nos lembra que somos responsáveis por nossa própria consciência e, portanto, devemos confrontar a verdade de nossa situação, por mais dolorosa que seja. Evitar ou negar o trauma apenas prolonga o sofrimento e impede o processo de cura.

Além disso, Sartre enfatiza a importância da autenticidade e da responsabilidade pessoal. Ao invés de se resignar ao papel de “vítima”, devemos assumir a responsabilidade por nossas escolhas e ações, mesmo diante das circunstâncias mais adversas. Isso não significa negar a dor ou o impacto do trauma, mas sim reconhecer que ainda temos o poder de escolher como responder a ele.

A liberdade, segundo Sartre, pode ser uma fonte de angústia, mas também é o que nos permite transcender nossas limitações e encontrar significado mesmo nas situações mais desafiadoras. Ao enfrentar um trauma, podemos escolher dar um sentido pessoal a essa experiência, transformando-a em uma oportunidade de crescimento e aprendizado.

Por fim, Sartre nos lembra da importância da solidariedade e da conexão humana. Embora cada indivíduo seja responsável por sua própria existência, também estamos interligados em uma teia de relações humanas. Buscar apoio e compartilhar nossas experiências com os outros pode nos ajudar a encontrar conforto e compreensão durante o processo.

Em suma, ao lidar com traumas à luz do existencialismo sartriano, é essencial reconhecer nossa liberdade e responsabilidade pessoal, enfrentar a realidade de nossa situação com autenticidade, encontrar significado em meio à adversidade e buscar apoio na nossa rede de apoio. Ao adotar essa abordagem, podemos reelaborar essas vivências e contar nossa trajetória através de nós, assumindo nosso protagonismo.

Malu Alves Batista Mendes

Psicóloga – CRP 12/15483